Viktor Saneyev foi a pedra na sapatilha dos brasileiros no triplo

Único tricampeão olímpico no salto triplo, o ex-atleta representou a União Soviética na conquista do ouro nos Jogos de 1968, 1972 e 1976

A tradição do Brasil na prova do salto triplo, iniciada por Adhemar Ferreira da Silva e seguida por João do Pulo, Nelson Prudêncio e Jadel Gregório, poderia ser ainda mais brilhante de não fosse um homem: Viktor Saneyev. O georgiano, que sob a bandeira da extinta União Soviética levou a medalha de ouros nos Jogos da Cidade do México-1968, Munique-1972 e Montreal-1976, teve sua morte anunciada nesta segunda-feira (3), em Sydney, na Austrália, aos 76 anos, onde vivia desde os anos 1990. A causa da morte não foi divulgada.

Não é exagero apontar que o talento de Saneyev impediu pelo menos mais duas medalhas de ouro olímpicas para o Brasil no salto triplo. A primeira delas, em 1968, de forma dramática, em uma histórica disputa travada com Nelson Prudêncio.

Nos Jogos da Cidade do México, a batalha no triplo foi insana, com direito a ter o recorde mundial da prova quebrado nada menos do que cinco vezes. Duas delas pelo próprio Viktor Saneyev, que após ser superado por Prudêncio na quarta tentativa (17,27 m, que era então o recorde da prova), marcou incríveis 17,39m e levou o seu primeiro ouro.

Em Munique-1972, Nelson Prudêncio até que tentou, mas tendo como melhor marca 17,05 m, teve que se contentar com o bronze. Saneyev travou uma disputa particular com o alemão-oriental Jorg Drehmel, mas graças a um salto de 17,35 m (e no limite do vento a favor de + 2.2 m/s), superou o rival por uma diferença de quatro centímetros, levando o bicampeonato olímpico.

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O terceiro ouro de Viktor Saneyev no salto triplo aconteceu em Montreal-1976. Foi seu primeiro duelo em Jogos Olímpicos com o brasileiro João Carlos de Oliveira, o João do Pulo, que um ano antes assombrou o mundo ao cravar o recorde mundial com 17,89 m, nos Jogos Pan-Americanos da Cidade do México-1975.

O problema é que nos Jogos de 1976, o brasileiro não estava em sua melhor forma. Em cinco saltos válidos (queimou o primeiro), nem chegou perto da marca do recorde e ficou com o bronze, com 16,90 m. Já Saneyev desta vez sofreu para subir no ponto mais alto do pódio. Apenas no penúltimo salto obteve a marca que lhe deu o terceiro ouro olímpico, 17,29 m, superando o americano James Butts, que levou a prata.

Quis o destino que Viktor Saneyev visse escapar a chance de tornar-se tetracampeão olímpico justamente em casa, na Olimpíada de Moscou-1980. Aos 35 anos e sofrendo com lesões, ele ficou com a medalha de prata, perdendo o ouro para o compatriota Jaak Uudmae, enquanto novamente João do Pulo levou a medalha de bronze.

Resultado contestado

Só que ainda hoje há quem conteste este resultado. Até sua morte, em 1999, João alegou ter sido claramente prejudicado pelos árbitros soviéticos, que anularam quatro de seus seis saltos. No último deles, possivelmente um salto para além de 18 metros, que seria novo recorde mundial e ouro certo nas mãos do brasileiro.

Sem ajuda de tecnologia na época, os árbitros apenas alegavam irregularidades e logo limpavam a caixa de areia, impedindo qualquer outra forma de protesto. Anos depois, o treinador de Uudmae revelou que se encontrou com João do Pulo na Paralimpíada de Barcelona e disse que o brasileiro foi mesmo prejudicado nos Jogos de Moscou.

Além das quatro medalhas olímpicas, Viktor Saneyev conquistou ainda duas vezes o título europeu do triplo, em Atenas (1969) e Roma (1974). Ele foi ainda seis vezes campeão europeu indoor. Ao longo da carreira, ultrapassou 60 vezes a marca de 17 metros na prova.

Após sua aposentadoria nas pistas, mudou-se com a família para a Austrália, onde trabalhou como técnico de atletismo. Chegou a perder o emprego, passou por dificuldades financeiras e até cogitou vender suas medlahas olímpicas. Mas conseguiu um cargo de professor de educação física e depois técnico de saltos no Instituto do Esporte de Nova Gales do Sul.

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Marcelo Laguna

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