O boxe precisa lidar com seus fantasmas se quiser seguir na Olimpíada

Investigação que comprova manipulação de resultados em lutas nos Jogos Rio-2016 é vergonhosa para a modalidade e aumenta risco para Paris-2024

O boxe volta a ficar no olho do furacão em relação a seu futuro no programa olímpico após o resultado anunciado de uma investigação que comprovou a manipulação de resultados em lutas nos Jogos Rio-2016. O canadense Richard McLaren, o mesmo que denunciou o esquema de doping estatal organizado pela Rússia, finalizou um relatório feito a pedido da Aiba (Associação Internacional de Boxe).

O relatório de McLaren, que tem um total de 149 páginas, confirmou o que já se suspeitava há algum tempo. Houve manipulação em vários combates realizados na Olimpíada do Rio de Janeiro, com participação de árbitros e juízes. De acordo com McLaren, há sinais de corrupção também em lutas ocorridas nos Jogos Olímpicos de Londres-2012. Estima-se que pelo menos 11 lutas tiveram resultados alterados por este esquema.

O método utilizado seria o de criação de um clima de medo e intimidação em todo o sistema de arbitragem, contando com a participação da antiga gestão da Aiba para corromper as lutas. “Esta estrutura permitia cumplicidade de árbitros e juízes, designados para garantir resultados previamente acordados”, explicou Mclaren em uma entrevista coletiva nesta quinta-feira (30), em Lausanne (SUI).

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Um dos combates apontados como alvo de manipulação em 2016 foi entre o irlandês Michael Conlan, da Irlanda, e o russo Vladimir Nikitin, pelos pesos galo, ocorrido na fase de quartas de final. O lutador irlandês massacrou o rival russo, que no entanto acabou sendo apontado como vencedor, em decisão dividida.

Conlan revoltou-se ainda no ringue, contestando o resultado dos juízes. O fato é que Niktin saiu tão castigado da luta que nem teve condições de disputar a semifinal. Nesta quinta, o irlandês foi às redes sociais e declarou se sentir justiçado com o relatório.

Situação delicada

A divulgação do relatório não poderia vir em pior momento para o boxe. Embora tenha sido pedido pela Aiba – que inclusive puniu o ex-presidente da entidade, Wu Ching-Ko, de Taiwan, banido por toda a vida por ser o mentor do esquema -, o relatório não atenua a situação da modalidade.

Há duas semanas, o COI (Comitê Olímpico Internacional) divulgou uma carta aberta enviada à Aiba. Nela, questionava as mudanças de governança realizadas pela entidade, que está suspensa. Por sinal, nos Jogos de Tóquio-2020 o boxe só aconteceu graças a uma força-tarefa criada pelo COI.

Na carta, o comitê executivo da entidade aponta que se os problemas de governança e arbitragem não tiverem uma solução, é possível que o boxe seja mesmo excluído da Olimpíada de Paris-2024.

Sempre bom lembrar que o boxe está no programa olímpico desde a edição de Saint Louis-1904. Desde então, só não foi disputado nos Jogos de Estocolmo-1912, porque as leis da Suécia proibiam sua prática na época.

Se quiser seguir vivo no movimento olímpico, o boxe precisa encarar de frente seus fantasmas e fazer uma limpeza profunda de sua estrutura. É bom que faça isso rapidamente.

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Marcelo Laguna

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