A trajetória da tocha olímpica pelas cidades japonesas é melancólica

Visita do fogo olímpico na histórica Hiroshima foi restrita a poucos participantes por causa da pandemia do coronavírus

Nesta última segunda-feira (17), o tour da tocha olímpica da Olimpíada Tóquio-2020 chegou à histórica cidade de Hiroshima. Fossem estes tempos normais e teríamos visto uma celebração à vida junto com um dos mais significativos símbolos do olimpismo. E justamente no local que foi palco de uma das maiores tragédias da humanidade, onde  houve a explosão da bomba atômica em 6 de agosto de 1945. A morte de milhares de pessoas provocou a rendição do Japão e o encerramento da Segunda Guerra Mundial.

Mas estes não são tempos normais. São tempos de uma pandemia do coronavírus que segue implacável e no Japão não tem dado trégua, com a curva de novos casos aumentando a cada dia. Talvez isso ajude a explicar a cena que ilustra o post, bela e triste da mesma forma.

Dois condutores trocam o fogo olímpico, tendo ao fundo a imagem da Cúpula Genbaku, ou Cúpula da Bomba Atômica, um dos raros edifícios que sobreviveram à explosão atômica de 1945. Registrado como patrimônio histórico da humanidade em 1996, o prédio com a cúpula semidestruída relembra o mundo dos horrores da guerra e também serve como uma forma de reverenciar as vítimas. Mas quase ninguém, com exceção dos envolvidos no evento do tour da tocha, puderam presenciar a cena da foto acima.

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Hiroshima, assim como várias cidades que compõe o revezamento da tocha dos Jogos de Tóquio, preferiu restringir o revezamento da tocha olímpica às dependências do Parque do Memorial da Paz. As prefeituras de Fukuoka, Okayama e Osaka também tiraram o evento das vias públicas. Tudo para evitar um descontrole na Covid-19 na região e impacte ainda mais o já afetado sistema de saúde do Japão.

Não custa lembrar que várias cidades japonesas estão em estado de emergência até o final do mês de maio e que a vacinação no país segue em um ritmo extremamente lento.

É inevitável não sentir um incômodo ao ver a imagem desta segunda-feira. Desculpem-me os que estão empolgados com a proximidade da abertura da Olimpíada, em 23 de julho. Mas a melancolia segue como marca registrada de tudo o que diz respeito a Tóquio-2020.

Isso não é um sentimento de quem está observando tudo do outro lado do mundo.

Pesquisa feita por telefone e publicada neste final de semana pelo jornal “Asahi Shimbum”, um dos mais importantes do Japão, apontou que 83% dos entrevistados defendem o cancelamento (43%) ou um novo adiamento dos Jogos (40%). Em abril, o índice total estava em 69%. São a favor da realização da Olimpíada apenas 14% dos consultados pelo jornal.

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É obvio que pesquisa de opinião sozinha não muda muita coisa. Mas faz barulho e obriga as pessoas a refletirem. Tanto o governo do Japão quanto o COI (Comitê Olímpico Internacional) asseguram que os Jogos Olímpicos seguirão em frente normalmente. Mas as palavras de políticos e cartolas não conseguirão apagar a tristeza como desta segunda. Quando por exemplo, um momento tão marcante como a chegada da tocha olímpica em um dos locais eleitos para celebrar a paz mundial, é fechado em uma bolha para combater um vírus maldito.

Tristes tempos são estes, convenhamos.

Marcelo Laguna

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