Aviso do COI sobre protestos em Tóquio provoca reação de associação de atletas

Em mensagem de final de ano, Thomas Bach avisou sobre a proibição de manifestações políticas em Tóquio-2020 e não demorou muito para levar o troco

Em mensagem de saudação a 2020, o alemão Thomas Bach, presidente do COI (Comitê Olímpico Internacional) não ficou apenas nos tradicionais desejos de sucesso. O dirigente deixou clara que a entidade não deseja ver protestos ou manifestações políticas dos atletas em Tóquio-2020. Um alerta preventivo, até pelo momento de polaridades políticas e sociais atuais.

O que possivelmente Bach não contava era receber uma resposta dura poucos dias depois, de uma entidade de atletas que acusou o próprio COI de ter politizado o esporte!

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Em sua mensagem, Bach fez um apelo para que os atletas evitem qualquer tipo de protestos em Tóquio. Segundo ele, à crescente politização do esporte não leva a resultado algum e apenas aprofunda as divisões existentes. “Os Jogos Olímpicos sempre são uma plataforma global para os atletas e suas performances esportivas. Eles não são, e nunca devem ser, uma plataforma para promover fins políticos ou quaisquer outros fins potencialmente divisivos”, disse Bach, que completou. “Como a história demonstrou, essa politização do esporte não leva resultados e apenas aprofunda as divisões existentes. Os atletas têm um papel essencial no respeito a essa neutralidade política no campo de jogo”.

De fato, ninguém pode alegar ter sido surpreendido pelas palavras do mandatário do COI. Até porque a Carta Olímpica proíbe expressamente manifestações políticas durante os Jogos.

Só que reações à mensagem de Thomas Bach não demoraram muito para aparecer. No final da semana, a Global Athletes, uma nova entidade de atletas “que irá inspirar e liderar mudanças positivas no esporte mundial”, segundo a descrição de seu site, deu o recado. E não aliviou nas palavras.

Discurso duro

“Sejamos claros, o Movimento Olímpico já politizou o esporte. Para citar alguns exemplos: em PyeongChang, o COI promoveu uma equipe unificada sul e norte-coreana; o presidente do COI se reúne regularmente com os chefes de Estado que também desempenham funções como chefes dos comitês olímpicos nacionais e chefes das Comissões do COI ocupando cargos ministeriais. Este navio já zarpou: o COI já politizou o esporte”, disse a Global Athletes, em um comunicado publicado nas redes sociais.

A entidade, que tem entre seus integrantes o ciclista britânico Callum Skinner, campeão olímpico na Rio-2016, relembrou no texto a própria Declaração dos Direitos Humanos. “Nos termos do artigo 10 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, a liberdade de expressão é um direito humano fundamental e as regras esportivas não têm a capacidade de limitar esse direito”, escreveu a Global Athletes.

No texto, a entidade reforçou que os atletas devem ter o direito de se manifestar, respeitando a Declaração dos Direitos Humanos. Por fim, lembra que ameaçar os atletas de serem expulsos dos Jogos é sinal de desequilíbrio de poder entre dirigentes e atletas.

Exemplo do passado

Óbvio que a Global Athletes construiu uma narrativa forte para provocar reações e marcar território. A Carta Olímpica é bem clara quanto às proibições de manifestações esportivas. A imagem do protesto dos americanos Tommie Smith e John Carlos, expulsos da Vila Olímpica nos Jogos da Cidade do México-1968, ainda está bem viva.

Além disso, a Comissão de Atletas do COI, por meio de sua presidente Kirsty Coventry, concordou com o discurso de Thomas Bach contra manifestações políticas. Não se pode esquecer que o Pan-Americano de Lima-2019 foi palco de dois protestos de atletas americanos.

Race Imboden, da esgrima, se ajoelhou durante a execução do hino dos Estados Unidos. Gwen Barry, do atletismo, repetiu o gesto de Smith e Carlos, erguendo o braço direito com punho fechado. Ambos protestaram contra as injustiças sociais, racismo e mau trato aos imigrantes. Os dois foram advertidos duramente pelo comitê olímpico americano.

Em um momento com protestos na Ásia, América do Sul e agora com ameaça de um conflito envolvendo Estados Unidos e Irã, será interessante ficar de olho nos pódios em Tóquio.

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Marcelo Laguna

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