O corporativismo da cartolagem dá um duro golpe na eleição da CBDA

Declaração da Fina de que não reconhecerá a eleição na CBDA mostra que os cartolas, quando interessa, são mais unidos do que se poderia imaginar

No começo desta semana, fiz um texto a respeito de três acontecimentos importantes nesta sexta-feira (9), no universo olímpico. Dois deles, durante a reunião do conselho executivo do COI (Comitê Olímpico Internacional) a respeitos dos Jogos de Tóquio-2020 e da escolha da sede de 2024/28. O outro, era sobre a eleição (finalmente) da CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos), que vive a pior crise da sua história e tem até seu antigo presidente preso atualmente.

Pois bem, a posição da Fina (Federação Internacional de Natação), anunciada na tarde desta quinta-feira a respeito do que pensa sobre o pleito de amanhã, mostra claramente que o vencedor desta sexta-feira pode comandar uma entidade “pirata”.

O comunicado do diretor executivo da Fina, Cornel Marculescu, é bastante claro: eles não reconhecem o encaminhamento jurídico que a CBDA, sua entidade filiada, tomou, ao retirar, via Justiça Comum, a antiga diretoria do poder. E mais, não aceita que pela mesma Justiça Comum seja determinado uma mudança no colégio eleitoral, dando poder de voto aos clubes, além da Comissão de Atletas – tudo isso, é bom que se diga, previsto dentro de Lei Pelé. Mas a Fina não está muito preocupada com isso.

A verdade é que a cartolagem, não importa a nacionalidade ou modalidade, é totalmente corporativista e no fundo, faz o jogo político apenas de acordo com seus interesses, não pensando no bem do esporte. Mesmo lá em Bangu, dentro de uma cela, Coaracy Nunes e outros três dirigentes detidos pela investigação da Operação Águas Claras do Ministério Público de São Paulo, podem se sentir abraçados. A solidariedade dos cartolas mais uma vez levou a melhor.

Cabe aqui uma crítica ao trabalho do interventor Gustavo Licks: por que não tentou, ao longo do período em que está à frente da CBDA, uma aproximação com a Fina para explicar os trâmites da confusa eleição da entidade? Pois pelas letras frias da lei, a Federação Internacional tem suas razões. A CBDa é uma entidade provada, assim como a Fina, e que deve ser regida apenas pelos tribunais esportivos. Um pouco de diplomacia não teria sido exagerado neste caso.

Qual o efeito prático disso tudo para os esportes aquáticos do Brasil? Competir em torneios internacionais – o Mundial de Budapeste (HUN) é o mais importante do ano – sem a bandeira e o nome ou hino do Brasil. Competiriam como atletas independentes da Fina. Isso já ocorreu, por exemplo, com o México, durante o evento-teste dos saltos ornamentais para a Rio-2016. Neste caso, a punição veio por conta de uma dívida dos mexicanos com a Fina.

O drama da CBDA e dos esportes aquáticos do Brasil ainda está muito longe de terminar.

LEIA MAIS SOBRE A CBDA:

Cielo bota o dedo na ferida da CBDA 
Crise na CBDA é o mais novo “legado olímpico” brasileiro 
O triste fim de Coaracy Nunes 
Que a limpeza não fique apenas em Coaracy Nunes 
Tempos de mudanças no esporte brasileiro?

 

Marcelo Laguna

Mais em​ Isto é Brasil

Interdição do Parque Olímpico da Barra, autorizado pela Justiça Federal do Rio, é mais um triste episódio na falta de zelo com o chamado legado dos Jogos
A retrospectiva 2019 do esporte olímpico brasileiro em 2019 é marcada por momentos de muita alegria e outros nem tanto. Que venham os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020
Votação popular foi aberta neste domingo e dez destaques do esporte brasileiro em 2019 estão concorrendo. Vencedor será conhecido no dia da cerimônia, em dezembro
Alison dos Santos teve uma temporada brilhante em 2019, quando foi medalha de ouro no Pan de Lima e melhorou sua marca sete vezes. Prêmio da Iaaf pode ser a cereja no bolo