O triste fim de Coaracy Nunes

Decisão da Justiça tira do poder a atual gestão da CBDA. Com quase 30 anos no poder, Coaracy Nunes se despede da vida de dirigente da pior forma possível
O presidente da CBDA, Coaracy Nunes, ao lado de seu braço direito, o superintendente Ricardo de Moura (Crédito: Satiro Sodré/CBDA)
O presidente da CBDA, Coaracy Nunes, ao lado de seu braço direito, o superintendente Ricardo de Moura (Crédito: Satiro Sodré/CBDA)

Decisão publicada nesta quarta-feira pela juíza Simone Gastesi Chevrand, da 25ª Vara Cível do Rio de Janeiro, determinou o afastamento da atual diretoria da CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos). Embora em caráter liminar, a decisão aponta, de modo prático, o fim da era Coaracy Nunes à frente da entidade. Ele estava no poder desde 1988. Foi nomeado como interventor o advogado Gustavo Licks.

É bem verdade que este imbróglio jurídico do processo eleitoral da CBDA não permite muitas certezas. Quem garante que quando acordarmos amanhã não haverá uma notícia dando conta que Coaracy e sua turma conseguiu reverter o quadro? De qualquer maneira, não tenho a menor dúvida em apontar que o veterano cartola é o maior perdedor desta guerra.

Coaracy Nunes falhou em muitas coisas. A principal delas foi deixar completamente imobilizada uma das entidades mais importantes do esporte olímpico do Brasil. Por não saber deixar a cena política na hora (e da forma) certa, pela vontade incontrolável em se manter no poder, Coaracy é o grande culpado por toda essa crise.

Com mais de 70% de seu patrocínio dos Correios reduzido para este 2017, sem calendário nacional das modalidades, sem saber quais índices necessários para as competições internacionais e com perspectiva de ter somente oito nadadores no Mundial de Budapeste, a CBDA deixou todos os esportes aquáticos brasileiros estagnados.

Enquanto teve dinheiro de sobra, além de títulos e medalhas conquistadas por estrelas como Gustavo Borges, Fernando Scherer, Cesar Cielo e Thiago Pereira, o grupo que comandou a CBDA por quase três décadas não encontrou resistência. Mesmo sem se preocupar em fazer com que as demais modalidades aquáticas (polo aquático, saltos ornamentais, nado sincronizado) alcançassem resultados significativos.

Envolvido em investigações de mau uso de dinheiro público, Coaracy Nunes ainda teve que engolir uma liminar conquistada pela nadadora Joanna Maranhão que iniciou todo o processo que terminou nesta quarta-feira. o dirigente tentou impor uma comissão de atletas (que tem direito a voto na Assembleia Geral), mas a nadadora pernambucana foi à luta e conseguiu barrar a manobra.

Para todos os efeitos, é bom que se tenha consciência de que a temporada de 2017 para os esportes aquáticos está perdida. A natação, carro-chefe da CBDA, deverá ter uma participação muito modesta no Mundial de Budapeste. Os demais esportes então, possivelmente nem conseguirão viajar, por falta de recursos. O legado deixado pelos 29 anos de mandato de Coaracy Nunes será apenas um atraso lamentável na modalidade. Seu final de carreira como dirigente esportivo não poderia ser mais triste.

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Marcelo Laguna

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