Há 50 anos, um protesto que marcou a história olímpica

Em 1968, Tommie Smith e John Carlos resolveram se posicionar contra a violência sofrida pelos negros americanos. E contaram com o apoio de um branco australiano
Protesto atletas americanos Pantera Negra
Tommie Smith e John Carlos fazem o protesto com o gesto do grupo Panteras Negras, no pódio dos 200 m nos Jogos de 1968 (Crédito: Reprodução)

Na última sexta-feira (12), em post para falar sobre os 50 anos da abertura da Olimpíada de 1968, já havia citado rapidamente que um dos pontos marcantes daqueles Jogos.

Há exatamente meio século, os americanos Tommie Smith e John Carlos entraram para a história olímpica com um protesto que pegou organizadores e o próprio COI de surpresa.

Respectivamente primeiro e terceiro colocados nos 200 metros, Smith e Carlos já pensavam em fazer algum tipo de manifestação nos Jogos do México meses antes da competição.

Eles integravam um movimento chamado “Projeto Olímpico para os Direitos Humanos” (OPHR). Por causa dos sérios problemas de discriminação racial nos Estados Unidos, o movimento cogitava organizar um boicote de atletas negros à Olimpíada da Cidade do México.

Obviamente não tiveram êxito.

O assassinato do reverendo Martin Luther King, em abril de 1968, fez com que a ideia de algum tipo de protesto seguisse firme.

Mesmo com os dirigentes americanos prevendo algum tipo de ação, ninguém esperava pelo gesto dos velocistas no pódio dos 200 metros.

Veja como foi a final dos 200 m em 1968

Os punhos erguidos remetiam à saudação do grupo Panteras Negras, que defendia a proteção aos negros das arbitrariedades da polícia. O grupo chegou a aderir ao marxismo.

Consequências do protesto

O protesto trouxe graves consequências aos envolvidos, inclusive ao australiano Peter Norman, que ficou com a medalha de prata.

Foi de Norman a ideia de que os americanos dividissem o único par de luvas negras disponível no pódio. Smith levantou o braço direito e Carlos, o esquerdo.

O australiano também usou em seu uniforme o escudo da OPHR.

Tommie Smith e John Carlos, como represália dos dirigentes, foram expulsos da Vila Olímpica na Cidade do México. As carreiras de ambos foi igualmente afetada e quase foram banidos do esporte.

Para Peter Norman, o destino foi igualmente cruel. Ao retornar à Austrália, foi deixado no ostracismo pelos dirigentes. Chegou a fazer 13 vezes o índice para os Jogos de Munique-1972, mas não foi convocado.

Morreu em 2006, de ataque cardíaco. Tanto Smith quanto Carlos foram até a Austrália acompanhar seu funeral e ajudaram a carregar o caixão.

Tommie Smith e John Carlos foram homenageados pelo ex-presidente americano Barack Obama em 2016, na Casa Branca.

Marcelo Laguna

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